Recife Antigo Foto Mario Carvalho |
Existem
muito relatos de paixões entre boêmios e prostitutas, algumas interessantes e
com final feliz. Naquela época se dizia – Fulano “tirou” uma mulher da zona.
Isto significava manter uma casa, de um
tudo, para abrigar a rapariga, fazendo visitas periódicas, sem, no entanto,
abandonar a família. Em outros casos o apaixonado assumia de papel passado aquela que antes vivia no
bordel e que a partir daquela data adquiria status de senhora.
Em
uma dessas histórias, uma mulher dama casou com todas as honras, o marido, um
comerciante bem sucedido desprezou todos os conceito e preconceitos da
sociedade, constituiu família e viveu feliz por muitos anos com a mulher que lhe
foi fiel e excelente dona de casa. Tiveram muitos filhos, todos com ótima
educação, estudaram nos melhores colégios, e frequentaram a chamada alta
sociedade. Um deles, formado em direito, fez concurso público para um cargo
importante na magistratura. Ao se apresentar diante de seu superior
hierárquico, um velho juiz em final de carreira, homem conservador e
retrógrado, preconceituoso, que tinha estreitas ligações com a ditadura do
Estado Novo, declinou seu nome. No passado antes de broxar o velho era frequentador
assíduo da zona, onde gozava de regalias por conta da sua condição social e
influência política. Sem caráter e nenhum escrúpulo, conhecendo de antemão o
passado do rapaz, ao ouvir o seu nome, perguntou – Ah! Você é o filho de Maria das
Mercês não é? Diante da afirmativa do jovem, completou com um sorriso cínico
nos lábios: Comi muito a senhora sua mãe!
Na rua onde eu morava, residia também uma famosa cafetina, que criou seus filhos longe do seu negócio, e deu a todos uma ótima educação, sem esconder de onde vinha o dinheiro para tal. Sofreu vários tipos de discriminação, dos vizinhos, que não queriam que seus filhos fizessem amizade com “os filhos da puta” dos colégios que quando tomavam conhecimento da profissão da mãe expulsavam as crianças alegando muitas vezes o fato da instituição ser religiosa. Por ironia foi Jesus que perdoou Madalena, mas nestes momentos os cristãos esquecem o fato.
Na rua onde eu morava, residia também uma famosa cafetina, que criou seus filhos longe do seu negócio, e deu a todos uma ótima educação, sem esconder de onde vinha o dinheiro para tal. Sofreu vários tipos de discriminação, dos vizinhos, que não queriam que seus filhos fizessem amizade com “os filhos da puta” dos colégios que quando tomavam conhecimento da profissão da mãe expulsavam as crianças alegando muitas vezes o fato da instituição ser religiosa. Por ironia foi Jesus que perdoou Madalena, mas nestes momentos os cristãos esquecem o fato.
Ninguém
seguiu a profissão da mãe, uma das moças, amiga de minha irmã, estudaram juntas
desde os tempos do ginásio, casada, com filhos, mestra em Serviço Social,
participou comigo de um congresso de Saúde Pública. Antes de iniciar uma
palestra disse em alto e bom som: Eu sou a filha da puta, e muito me orgulho disso,
minha mãe é uma heroína, e falou sobre a dignidade da mãe, e do sacrifício que
fez para educar os filhos. Surpreso, perguntei por que havia dito aquilo e ela
me respondeu: Digo antes que alguém o faça, (como na história do juiz cafajeste)
na tentativa de me derrubar. A mãe dela, atualmente morando em outro Estado, é
sindicalista, representa a categoria, e agora, já idosa, defende suas
companheiras dos maus tratos da polícia e da lei, sempre prontas para punir as
prostitutas, mas, ineficiente para colocar na cadeia os juízes corruptos.
Paulo Carvalho.
Paulo Carvalho.
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