José Alves Sobrinho poeta e cantador |
ZÉ SOBRINHO
UM MESTRE NA CANTORIA E NA ACADEMIA.
Por Zelito Nunes.
Eu ainda
pequeno lá pelos Cariris Velhos da Paraíba já ouvia falar no cantador Zé Alves
Sobrinho, como um dos poucos que ousavam enfrentar Pinto do Monteiro.
E foram
muitos os embates entre os dois que foram enquanto vivos,mais que dois grandes
poetas. Foram também companheiros de estrada num tempo em que os cantadores
rompiam léguas a cavalo e até a pés.
Desnecessário
se faz dizer que foram também grandes amigos.
Voltei a
encontrar Zé Sobrinho, num congresso de cantadores na década de oitenta na
capital da poesia do nosso país da velha Paraíba do Norte,Campina Grande.
Ele, gentil
e generoso que sempre foi, acolheu mais um admirador que era (e serei sempre)
eu, me deu um cartão seu como pesquisador da UFPB,e ficamos amigos. Esse cartão
que por muito tempo guardei não era um simples pedaço de papel, simbolizava sim
o mais que justo acolhimento e reconhecimento de um gênio da Cultura Popular na
comunidade acadêmica.
Gesto mais
que grandioso e belo.
Anos depois
voltamos eu e Paulo Carvalho às "Malvinas" em Campina
Grande pra
colher um depoimento seu sobre o Velho Pinto. E ele nonagenário não só nos
recebeu como ainda nos apresentou a bela biblioteca que construiu numa modesta
casa naquele bairro campinense batizado com nome de tenebrosa memória.
Algum
tempo depois, Zé Sobrinho ensacou a viola e foi encontrar os velhos
companheiros sabe-se lá onde. Mas deixou nome e fama gravados em granito.
E essa
fabulosa sextilha feita por Pinto pra responder a uma sua provocação:
Sobrinho
terminou :
"Pinto
você me respeite
Que eu
agora sou doutor"
Pinto respondeu:
"Você
nunca foi doutor
Zé
Sobrinho me perdoe
Se foi, eu
estava enganado
E eu
estava enganado, foi
Um dia em
Campina Grande
Doutor de
Bumba meu Boi"....
Zelito Nunes e José Alves |
Zé Alves Sobrinho
Por Antônio Lisboa
Paraibano de Pedra
Lavrada, José Alves Sobrinho é um dos ícones da poesia popular nordestina.
Teve os primeiros contatos
com a cantoria aos 11 anos, encantou-se
de tal maneira que a partir daquela noite começou a improvisar seus versos e
com 13, tornou-se cantador profissional.
Um dos repentistas mais
brilhantes na História da cantoria, desempenhou um papel importantíssimo. Foi
um dos cantadores mais completos da sua geração, enquanto cantou, primou pela
qualidade e o alto nível da sua produção poética e atuou de forma incansável na
moralização da classe se impondo elegantemente como artista e como cidadão.
Não o alcancei mais
cantando mas tive a satisfação de conhecê-lo e escuta-lo por várias vezes. Ouvi
dele que tornou-se cantador "não pra ser artista mas pra mostrar ao Mundo
uma cultura", que adotou uma postura de combate aos preceitos da sociedade
e da própria família enfrentados pelos poetas. Outra vez me declarou não
acreditar em pesquisador de escritório "só acredito em pesquisador que vai
até a bosta do bode".
Numa manhã,
numa praça no centro de Guarabira fiquei escutando aquele homem, que pra mim
era uma enciclopédia. E entre uma conversa e outra ia ouvindo revelações
fantásticas. Falou! "O hábito dos
cantadores se apresentarem em pé no palco, é criação minha, antes só se cantava sentado".
E foi dizendo, "tem
cantador que adquire muito conhecimento e não sabe o que fazer". "Sou
cantador, nasci pra ser cantador e não dou um cantador pelo maior doutor do
mundo".
Esse é o José Alves
Sobrinho, Zé Alves, Zé Sobrinho que eu ouvi falar e conheci.
Antonio Lisboa poeta Cantador e repentista |
Conhecia alguns cantadores
pela fama e o sertão de passagem.
Foi Zelito Nunes que me
apresentou aos dois. Cantadores, de
tantos, nem me atrevo a citar nomes, de alguns me tornei amigo, de todos
admirador e fã. Um mundo diferente se abriu pra mim, versos, improviso, causos.
Percebi que o sertão não era tão seco e árido, tão pobre, como me queriam fazer
acreditar. A poesia tornava o lugar ameno, uma brisa versejante se espalhava no
ar e abrandava o sol escaldante. Lembro de certa feita andávamos, eu e Zelito,
pelas ruas de Monteiro, quando um cidadão me puxou pela manga da camisa e
perguntou: O poeta quer ouvir uns versos de minha lavra? Eu respondi que não
era poeta, apenas um apreciador, e ele replicou: Basta gostar de poesia para
ser poeta. Sentamos numa mesa de bar, pedimos umas cervejas e comida, foi o
bastante para o cidadão desfiar uma ruma de versos de um só fôlego, parando
apenas pra os goles com tira gosto de bode assado.
Em 2002 Zelito liga pra
mim e pergunta: Vamos entrevistar o poeta José Alves Sobrinho em Campina
Grande? Eu nem deixei ele prosseguir na conversa. Já estou de malas prontas!
E foi aí que chegamos as
Malvinas...
Paulo Carvalho
Com José Alves |
Entrevista (Primeira Parte)
Entrevista (Segunda Parte)