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Foto Mário Carvalho. Pracinha do Diário. |
Boêmios,
Bares e Bordéis.
Muitas e
boas amizades nasceram numa mesa de bar, outras se desfizeram. Conversas sem
fim, mágoas, traições, aventuras, política, futebol, verdades e mentiras, vale
tudo na mesa de bar.
Antigamente
os bares eram temáticos, não se sabe necessariamente por que. Mustang na
Avenida Conde da Boa Vista, o mote era política, invariavelmente. Quem quisesse
encontrar Mano Teodósio, Ronildo Maia Leite, Bayron Sarinho, Guri, e até alguns
“exilados” ou vivendo na clandestinidade, era só chegar e sentar. Debates
calorosos, inúmeras soluções e receitas para um Brasil livre, por uma sociedade
justa e fraterna. Por via democrática, não, alguém gritava logo: Viva a
Revolução! Abaixo a Ditadura! Para desespero de Zago, o Gerente, pois com a
chegada da polícia haveria debandada geral e xêxo na certa.
Já o Bar
Savoy, ficou conhecido em outra época por reunir os poetas, lá estavam:
Gilberto Freire, Mauro Mota, Carlos Pena Filho, Ascenso Ferreira, Fernando Lobo
e Antônio Maria. E foi lá, numa mesa do mezanino que Carlos Pena escreveu o
mais famoso refrão da poesia Recifense. No Bar Savoy é assim.
São trinta copos de chopp
São trinta homens sentados
Trezentos desejos feitos
Trinta mil sonhos
frustrados.
Na frente
da Sertã, cafeteria que funcionava no térreo do Edifício Trianon, fui apresentado ao poeta Ascenso Ferreira, eu, ainda adolescente, e
pesando uns cinquenta quilos, senti minha mão quase esmagada pelo aperto da mão
imensa do poeta. Sua voz trovejou nos meus ouvidos com um: Muito prazer meu
jovem. Jamais esqueci aquele dia e aquele homenzarrão todo de branco, com um
chapelão na cabeça, tudo nele era grande, e grande é a sua poesia.
Bar
Central, O Galeto dos Quatro Cantos, Cantina Star, Bar do Derby era reduto de
jornalistas, músicos, Bicho Grilo, Cabeça, Porra Louca, Play Boy, gente com
dinheiro e lisos em geral. Nada impedia que nomes já citados aqui como
frequentadores de outros redutos, fizessem incursões nos bares da periferia,
principalmente na madrugada.
Em quase
todos os bares a presença itinerante de Lauro Villares, extraordinário artista,
caricaturista, e pintor. Os seus “bicos de pena” são famosos até hoje.
Costumava trocar uma obra de arte por uma cerveja, diante de uma negativa,
deixava marcas de dolorosos beliscões nos braços do freguês.
As quatro
da matina, uma corrida na direção das barracas do Mercado do Cais de Santa
Rita, no conhecido “come em pé” ou “mil e uma moscas”. No cardápio, inhame e
macaxeira regados ao molho de galinha cabidela acompanhados pela última cerveja
da noite, que, segundo os boêmios tinha com objetivo lavar o peritônio. Para
uns poucos sonhadores o passo seguinte era dormir e sonhar com a revolução.
Para outros um fim de noite, numa mesa de bar.
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