Erickson Luna 1958/2007
O poeta Erickson Luna
Recifense de Santo Amaro das Salinas, bairro limítrofe entre Recife e Olinda
onde viveu grande parte de sua vida. Bairro eminentemente operário, com
tradição de lutas pelas causas trabalhistas. Formado em Direito e Jornalismo,
também cursou Engenharia de Pesca, só isso mostra sua tremenda inquietação e
inconformismo diante da vida. Profundo conhecedor da língua portuguesa cultivava
outras incluindo o Esperanto.
Despojado de valores matérias
morou nas ruas, na companhia de bêbados e mendigos descuidando inclusive da
higiene pessoal. “Os vícios tragam-me
depressa” do poema Claros Desígnios, soa como grito de liberdade com relação às
drogas com as quais convivia habitualmente.
Um dos nossos últimos diálogos, eu
queria pagar por um de seus livros e ele disse-me – Companheiro não gosto de vender
aquilo que eu posso dar, mas me perdoe estou doido para tomar uma cerveja e
estou sem um tostão – ele sentado na mesa de um bar e eu por falta de cadeiras,
acocorado ao seu lado, não dava para perder a conversa sempre espirituosa e
crítica com relação à sociedade burguesa e hipócrita. Ateu convicto, neste
mesmo dia passou um amigo comum, de paletó e gravata e num gesto de despedida
falou – Poeta Erickson eu vou trabalhar fique
com Deus. O poeta retrucou na hora, quer ir trabalhar vá, enriqueça seu
patrão, mas não me deixe em má companhia!
Anarquista, poeta marginal
sem ter participado diretamente do movimento criado no Recife que abrigava
poetas alternativos como Miró da Muribeca Francisco Espinhara com quem dividiu
um livro, França, Zizo e muitos outros. Erickson era avesso a qualquer
formalidade, normas e regras, porém convivia com todos harmoniosamente.
CANTO DE AMOR E LAMA
Erickson
Luna
Choveu
e há lama em Santo Amaro
nas ruas
nas casas
vós contornais
eu não
a mim a lama não suja
em mim há lama não suja
eu sou a lama das chuvas
que caem em Santo amaro
Vosso scoth
pode me sujar por dentro
cachaça não
vosso perfume
pode me sujar por fora
suor nunca
porque sou suor
a cachaça e a lama
das chuvas que caem
em Santo Amaro das Salinas
II
Em minha vida passa um rio
e se erige uma cidade
podres as águas deste rio
sob o tom cinza da cidade
Mangue aterrado
esgoto a céu aberto
em mim há lama
e há lama em mim.
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