sexta-feira, 5 de julho de 2019

Poeta Erickson Luna



Erickson Luna  1958/2007

O poeta Erickson Luna Recifense de Santo Amaro das Salinas, bairro limítrofe entre Recife e Olinda onde viveu grande parte de sua vida. Bairro eminentemente operário, com tradição de lutas pelas causas trabalhistas. Formado em Direito e Jornalismo, também cursou Engenharia de Pesca, só isso mostra sua tremenda inquietação e inconformismo diante da vida. Profundo conhecedor da língua portuguesa cultivava outras incluindo o Esperanto.
Despojado de valores matérias morou nas ruas, na companhia de bêbados e mendigos descuidando inclusive da higiene pessoal.  “Os vícios tragam-me depressa” do poema Claros Desígnios, soa como grito de liberdade com relação às drogas com as quais convivia habitualmente. 


Um dos nossos últimos diálogos, eu queria pagar por um de seus livros e ele disse-me – Companheiro não gosto de vender aquilo que eu posso dar, mas me perdoe estou doido para tomar uma cerveja e estou sem um tostão – ele sentado na mesa de um bar e eu por falta de cadeiras, acocorado ao seu lado, não dava para perder a conversa sempre espirituosa e crítica com relação à sociedade burguesa e hipócrita. Ateu convicto, neste mesmo dia passou um amigo comum, de paletó e gravata e num gesto de despedida falou – Poeta Erickson eu vou trabalhar fique com Deus. O poeta retrucou na hora, quer ir trabalhar vá, enriqueça seu patrão, mas não me deixe em má companhia!


Anarquista, poeta marginal sem ter participado diretamente do movimento criado no Recife que abrigava poetas alternativos como Miró da Muribeca Francisco Espinhara com quem dividiu um livro, França, Zizo e muitos outros. Erickson era avesso a qualquer formalidade, normas e regras, porém convivia com todos harmoniosamente.


CANTO DE AMOR E LAMA
                                   Erickson Luna

Choveu
e há lama em Santo Amaro
nas ruas
nas casas
vós contornais
eu não
a mim a lama não suja
em mim há lama não suja
eu sou a lama das chuvas
que caem em Santo amaro

Vosso scoth
pode me sujar por dentro
cachaça não
vosso perfume
pode me sujar por fora
suor nunca
porque sou suor
a cachaça e a lama
das chuvas que caem
em Santo Amaro das Salinas
  
                                   II

Em minha vida passa um rio
e se erige uma cidade
podres as águas deste rio
sob o tom cinza da cidade

Mangue aterrado
esgoto a céu aberto
em mim há lama
e há lama em mim.

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