Abelardo da Hora
Conheci Abelardo da Hora pelas mãos de Rosa Bezerra que me levou até sua casa e atelier, eu que já era um admirador do artista, fiquei ainda mais impressionado diante da sua vitalidade, alegria, e memória infalível, apesar da idade avançada. Com a simplicidade que lhe é peculiar foi me mostrar suas peças, algumas ainda por terminar, com um entusiasmo digno de um jovem no começo de carreira. Lembrei-me da exposição de suas obras no Parque Dona Lindú, no espaço Janete Costa em 2012. Chorei de emoção ao ver seus personagens, grande parte deles mostrando o sofrimento e desventuras do homem nordestino, mas também o lado lúdico, sensual de Abelardo que nos mostra mulheres de seios e bundas fartas, na realidade, louvando a beleza e a capacidade de nossas guerreiras, que geram filhos fortes e saudáveis.
Já é tempo dos governantes no lugar de promover bandas de forró de plástico e outras manifestações de arte duvidosa, colocar na pauta homenagens a figuras como Abelardo da Hora, Fernando Spencer, Corbiniano Lins, Francisco Brennand enquanto eles ainda estão entre nos.
Aproveito a oportunidade para transcrever o excelente texto de Rosa Bezerra em homenagem ao artista.
Abelardo da Hora e Rosa Bezerra
ABELARDO DA HORA, COMUNISTA E ARTISTA.
De estrutura franzina, verve afiadíssima, humor
estratosférico, Abelardo cativa no primeiro instante ao apertar a mão do
interlocutor. Recebe a todos em sua casa-atelier com a solicitude dos grandes
Mestres e com a simplicidade do Gênio.
Reconhecido Internacionalmente como artista plástico,
Abelardo não teve apenas uma trajetória ligada às artes, as quais se dedica
desde muito jovem. Sua juventude e vida adulta foram pautadas também pelo seu
viés social e político, fato que às vezes fica em segundo plano em sua
biografia. No entanto, o artista plástico (e poeta bissexto) sempre esteve
ligado aos anseios populares: desde a luta pela redemocratização do país contra
a ditadura Vargas. A partir se interessa pelo Partido comunista.
Foi preso em Recife, em 1947, ao fazer propaganda do comício
do PCB. Não seria esta a única prisão do artista-político. Várias outras
aconteceriam ao longo de sua trajetória. As esculturas desta época revelam suas
preocupações sociais: “A fome e o brado”, “Meninos do mocambo”, “Desespero”,
onde vemos as faces esquálidas da fome e do desamparo de uma camada da
população, historicamente esquecida pelos poderes constituídos.
Filia-se ao PCB quando o mesmo já se encontra na ilegalidade,
o que demonstra coragem pessoal e política. Voltado sempre ao movimento sociocultural
funda o Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife, e passa a dar
aulas gratuitas a futuros artistas cujos nomes engrandecem a história
pernambucana: Gilvam Samico, Wilton de Souza, Aloísio Magalhães, Wellington
Virgolino, entre outros. Pra variar, é preso novamente pelo envolvimento na
campanha “O petróleo é nosso”, pois
não abandona os interesses políticos.
A década de 50 o faz elaborar tipos nordestinos, famosos e
reconhecidos em Recife. No entanto, na década de 60, seu envolvimento com
Miguel Arraes e sua trajetória política o levam à prisão, desta vez acompanhado
do líder comunista Gregório Bezerra. Pela relutância do PCB em resistir ao
golpe civil-militar de 1964, que instalou a ditadura no Brasil, tanto ele como
Gregório abandonam o partido, apesar de continuarem na militância. Muda-se para
São Paulo, por não poder trabalhar em Recife, cidade subjulgada pelos militares
anticomunistas. Ao retornar a Recife, após temporada afastado da família, Abelardo
retoma suas esculturas na década de 70, focando então tipos femininos
voluptuosos e carnudos, o que passa a ser sua marca registrada: mulheres de
muitas curvas, seios e nádegas enormes, comparáveis às Vênus pré-históricas,
opulentas e grandiosas.
Contudo não abandona seus tipos humanos, populares,
recifenses como o frevo, como as mães sofredoras, os brinquedos infantis, a
família de retirantes, Luiz Gonzaga, o maracatu, etc. Enfim, todo um universo
onde o homem e suas festas, suas dores, seus amores, sexo, vivências e lutas se
fazem presentes.
A
vida e a obra de Abelardo da Hora, em si mesmo um exemplo de lutas, alegrias,
festas, serenatas, prisões e vida, na melhor acepção do termo, tem sido sempre
pautada pela coerência e pela coragem.
ROSA BEZERRA,
Psicóloga
Social.
Recife, 07.09.2013.
Abelardo da Hora e Paulo Carvalho
Abelardo da Hora |
Abelardo da Hora e Rosa Bezerra |
ABELARDO DA HORA, COMUNISTA E ARTISTA.
De estrutura franzina, verve afiadíssima, humor
estratosférico, Abelardo cativa no primeiro instante ao apertar a mão do
interlocutor. Recebe a todos em sua casa-atelier com a solicitude dos grandes
Mestres e com a simplicidade do Gênio.
Reconhecido Internacionalmente como artista plástico,
Abelardo não teve apenas uma trajetória ligada às artes, as quais se dedica
desde muito jovem. Sua juventude e vida adulta foram pautadas também pelo seu
viés social e político, fato que às vezes fica em segundo plano em sua
biografia. No entanto, o artista plástico (e poeta bissexto) sempre esteve
ligado aos anseios populares: desde a luta pela redemocratização do país contra
a ditadura Vargas. A partir se interessa pelo Partido comunista.
Foi preso em Recife, em 1947, ao fazer propaganda do comício
do PCB. Não seria esta a única prisão do artista-político. Várias outras
aconteceriam ao longo de sua trajetória. As esculturas desta época revelam suas
preocupações sociais: “A fome e o brado”, “Meninos do mocambo”, “Desespero”,
onde vemos as faces esquálidas da fome e do desamparo de uma camada da
população, historicamente esquecida pelos poderes constituídos.
Filia-se ao PCB quando o mesmo já se encontra na ilegalidade,
o que demonstra coragem pessoal e política. Voltado sempre ao movimento sociocultural
funda o Atelier Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife, e passa a dar
aulas gratuitas a futuros artistas cujos nomes engrandecem a história
pernambucana: Gilvam Samico, Wilton de Souza, Aloísio Magalhães, Wellington
Virgolino, entre outros. Pra variar, é preso novamente pelo envolvimento na
campanha “O petróleo é nosso”, pois
não abandona os interesses políticos.
A década de 50 o faz elaborar tipos nordestinos, famosos e
reconhecidos em Recife. No entanto, na década de 60, seu envolvimento com
Miguel Arraes e sua trajetória política o levam à prisão, desta vez acompanhado
do líder comunista Gregório Bezerra. Pela relutância do PCB em resistir ao
golpe civil-militar de 1964, que instalou a ditadura no Brasil, tanto ele como
Gregório abandonam o partido, apesar de continuarem na militância. Muda-se para
São Paulo, por não poder trabalhar em Recife, cidade subjulgada pelos militares
anticomunistas. Ao retornar a Recife, após temporada afastado da família, Abelardo
retoma suas esculturas na década de 70, focando então tipos femininos
voluptuosos e carnudos, o que passa a ser sua marca registrada: mulheres de
muitas curvas, seios e nádegas enormes, comparáveis às Vênus pré-históricas,
opulentas e grandiosas.
Contudo não abandona seus tipos humanos, populares,
recifenses como o frevo, como as mães sofredoras, os brinquedos infantis, a
família de retirantes, Luiz Gonzaga, o maracatu, etc. Enfim, todo um universo
onde o homem e suas festas, suas dores, seus amores, sexo, vivências e lutas se
fazem presentes.
A
vida e a obra de Abelardo da Hora, em si mesmo um exemplo de lutas, alegrias,
festas, serenatas, prisões e vida, na melhor acepção do termo, tem sido sempre
pautada pela coerência e pela coragem.
ROSA BEZERRA,
Psicóloga
Social.
Recife, 07.09.2013.
Abelardo da Hora e Paulo Carvalho |