Quinta Semente
Texto de Zelito Nunes.
Vi Zeto pela primeira vez
lá pelo fim dos anos oitenta num bar que ficava nas esquinas da rua Joaquim
Nabuco e Guilherme Pinto nas Graças onde morei aqui no Recife.
Chamou-me a atenção aquele
sujeito magro, sorridente e ainda jovem que num gesto singular (e imensamente
poético) e corajoso "ousava" acompanhado pelo seu violão, declamar
versos de cantadores e citar pra uma plateia totalmente desengajada, os nomes
dos poetas autores daqueles versos tão belos quanto desconhecidos dos
frequentadores daquele lugar.
Nós outros apesar da
grande admiração pelos poetas e suas violas, guardávamos um certo pudor em
torno do cantador e da cantoria, nessa beira d'água tão famosa quanto vaidosa
Recife.
Não é preciso dizer que de
cara não só gostei daquele solitário menestrel como passei a ir ouvi-lo sempre
que sabia da sua presença por aqui.
Não é necessário também
dizer que Zeto e sua espontaneidade foram abrindo caminhos até onde estavam os
grandes cantadores de viola e as suas magníficas criações.
Dali pra o Pajeú foi só
uma questão de tempo o que de fato aconteceu quando ele juntamente com Bia
recebeu a unção de Louro,o guardião maior da poética pajeuzeira.
Lembro que ainda nos anos
oitenta, levei Paulo Carvalho ao Pajeú, era sua primeira vez com aquele povo.
E ele deslumbrado produziu
imagens que ficariam na história da poesia daquele imenso e belo país.
Uma dessas imagens ficaria
na minha retina, Louro do Pajeú com o então Antonio Marinho recém nascido nos braços.
Quem sabe de Antonio
Marinho, sabe do simbolismo que envolve essa foto.
Não só belos versos e
canções ficaram da dupla Bia e Zeto, vieram também pra perpetuar a espécie
Antonio Marinho e Miguel dois cabras de quem muito gosto e aposto como artistas
que ainda vão jogar longe essa arte maior.
Quanto a Zeto, ficaram uma amizade que durou até a sua
partida antes do combinado.
E os versos de uma canção de Jorge Mautner com a qual
ele costumava me saudar sempre que me via lhe assistindo: "No meu corpo o sangue não corre não, corre fogo e
larva de vulcão."
Acho que Zeto e a sua rebeldia tinham alguma coisa a
ver com isso...
Zeto declama e canta O Ébrio de Vicente Celestino
Zeto declama: Escrava de Onestaldo Pennafort
Texto de Zelito Nunes.