quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Santo Amaro das Salinas.


Igreja de Santo Amaro das Salinas.

Santo Amaro das Salinas

O surgimento da igreja de Santo Amaro das Salinas se confunde, em parte, com a própria trajetória de Francisco do Rego Barros, juiz ordinário e de órfãos, em 1593, além de vereador e presidente da Câmara de Olinda, que mantinha nas proximidades de sua residência, além do mais, um serviço de aproveitamento de sal, mais conhecido como As Salinas, onde, nas primeiras décadas do século XVII, uma animada povoação havia se constituído em volta daquela fabricação de sal.

 

Quando os holandeses invadiram Pernambuco, em 1630, sua primeira investida foi contra a propriedade das salinas de Rego Barros. Esta não era bem protegida, mas os locais resistiram corajosamente, recebendo os invasores com grossa metralha. Ao fim de três horas de lutas, eles se retiraram, carregando os feridos e deixando setenta mortos. Estes últimos tiveram as suas cabeças degoladas.

 

Dois meses depois desse episódio, os holandeses retornaram ao local e conseguiram incendiar a casa da propriedade. Não conseguindo tomar As Salinas, porém, foram novamente forçados a recuar, deixando um saldo de vinte e seis mortos. Com o tempo, como era de se esperar, As Salinas caíram em poder dos invasores, e eles ali construíram vários fortes, entre os quais o Forte das Salinas.

 

No dia 15 de janeiro de 1654, os pernambucanos obtiveram uma grande vitória: a conquista daquela fortaleza! Como o dia 15 era consagrado a Santo Amaro, atribuiu-se a vitória a um milagre desse santo. Derrotados os holandeses, de uma vez por todas, pôde Francisco do Rego Barros, agora com o título de capitão e foro de fidalgo da Casa Real (por especial mercê de D. João IV), retornar às suas terras e Às salinas.

 

Lateral da Igreja de Santo Amaro.

Quando Rego Barros faleceu, o seu filho mais velho - Luís do Rego Barros - construiu, em 1681, uma capela sob a invocação de Santo Amaro - o protetor de seu pai -, sobre as ruínas do Forte das Salinas. Procedeu da mesma forma o seu irmão - João do Rego Barros -, quando mandou erguer a Igreja de Nossa Senhora do Pilar sobre os alicerces do Forte de São Jorge.

Eu nasci em Santo Amaro, bem pertinho dessa igreja. 

O dia de Santo Amaro é 15 de janeiro e caso eu nascesse neste dia seria batizado com o nome de Amaro, o que seria, na verdade, considerando a etimologia do nome, Amargo,  mais compatível com este comunista, ateu e rabugento nascido três dias depois e batizado como Paulo Fernando.

Passei parte da minha infância no bairro de Santo Amaro como é conhecido. Minha primeira escola ficava na frente da igreja, e ao lado ficava o mercado Público. Santo Amaro é um bairro proletário que fica entre Recife e Olinda. 

O autor.


segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Duetos.



                                                                                                                       Foto Paulo Carvalho

O sertão dentro de mim

                                 Virgílio Siqueira


   Eu trago sempre, guardado em meu peito

Esse sertão que aflorado que já fora esquecido

   Da amplidão aos caminhos mais estreitos

Do que não morrera, mesmo quando carcomido

 

   Trago redivivo assim o sertão de um jeito

Que a todo instante, em cada canto é renascido

   Pelos contritos e pelo bruto em bruto eito

Trago-o acolhido, tenso num amor denso tecido

 

Traçando em fibras e luzes de imagens inexatas

Vejo-o definido em figuras preciosas e abstratas

   As luas, o sol; sonhos e pesadelos enfim

 

Inumeráveis eiras e eras perdidas, recompostas

Pela arrumação de onde as trago bem dispostas

   Com zelo guardo o sertão dentro de mim

 


domingo, 14 de fevereiro de 2021

Frevo de Bloco. Favor não confundir.

 Frevo de Bloco.


Amigos e amigas, companheiro e companheiras de luta em defesa da nossa cultura. Gostarias fazer uma denúncia e um apelo. Tenho recebido vários vídeos sobre carnaval e acho uma heresia e uma falta de respeito as nossas tradições misturar imagens do carnaval do Recife tendo como música de fundo uma marchinha carioca.

É verdade que elas fizeram muito sucesso por aqui quando a rede globo iniciou suas transmissões em rede nacional e vendia seu produto (música carioca) numa flagrante invasão cultural e total falta de respeito às manifestações regionais autênticas. Por favor, não confundam Frevo de Bloco, música que caracteriza as nossas agremiações líricas com marchinhas cariocas, principalmente aquelas cantadas por Moacir Franco, Marlene, Carmem Miranda e similares.

Por favor, eu exijo respeito a nossa cultura. Não estou me refiro a ninguém em particular até pelo fato de, por falta de conhecimento, já que em nossas escolas, com algumas e raras exceções não se ensina nada sobre cultura regional, e afra (isto incluiria o maracatu e caboclinhos), e as inúmeras manifestações da cultura nordestina, que nem dá para citar aqui.


Os recifenses na sua maioria, mesmo aqueles que gostam de frevo, e até ensaiam alguns passos não sabem diferenciar um frevo de rua, de um frevo canção ou de Bloco, um Maracatu Nação ou de baque virado, de um Maracatu de baque solto, ou impropriamente chamado de rural, um Clube Carnavalesco de uma Troça, de um Bloco Lírico, de um Urso e olhem isto é apenas o básico. A quem interessa  esta mistura, aqueles que querem descaracterizar, tornar tudo igual para vender num balaio só?

Todo respeito aos ranchos do Rio de Janeiro, isto foi dito por Nelson Ferreira num frevo antológico cantado num desfile que ficou na história, todo respeito ao carnaval baiano e seus cordões de isolamento entre os que podem e os que não podem pagar, mas como disse Patativa do Assaré Cante lá que eu canto cá.

Em 1952 a orquestra viajou de navio para participar do desfile de Ranchos e Escolas de Samba no Rio de Janeiro, que era bem diferente de hoje. Foi um sucesso estrondoso. Na volta o navio parou em Salvador para reabastecer e a orquestra desceu e desfilou pela cidade mostrando o Frevo para os baianos. Foi aí que aqueles putos conheceram o frevo de verdade. Hoje tem baiano dizendo que inventou o frevo. Dodô da dupla Dodô e Osmar viajou no ano seguinte para conhecer o Carnaval do Recife e foi até Campina Grande para ver um carro de som elétrico criado por Genival Macedo (meu amigo) e seu irmão Gilvan que desfilava pelas ruas da cidade desde 1941. 

Recife tinha durante o carnaval um caminhão com um trio em cima, patrocinado pela Coca Cola, este eu vi várias vezes na Rua da Concórdia onde moravam meus avós. Dodô retornou para Salvador e no ano seguinte formou o que veio  posteriormente a ser chamado de Trio Elétrico. A única coisa que eles podem reivindicar é o nome. 



Evocação número 2.

 

O apito tocou, o acorde soou

A orquestra vai tocar a introdução

Em saudação a Chiquinha Gonzaga,

O abre-alas que eu quero passar.

Recife neste carnaval

Rende homenagem ao sambistas brasileiros

A Noel, Sinhô e Chico Alves

Aos blocos e escolas do Rio de Janeiro.

Maior foi a geração de Lamartine, o grande campeão

O corso na avenida, confete a granel

Batalha lá em Vila Isabel

Recife cantando evocou

Os seus heróis de antigos carnavais

E vem exaltar toda a glória

Dos cariocas, brasileiros imortais



                                           Bloco da Saudade.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Ascenso Ferreira



Fui apresentado ao poeta Ascenso Ferreira por meu pai Mário Carvalho na frente da Sertã no térreo do Edifício Trianon. Devia ter na época uns 14 anos, mas nunca me saiu da lembrança aquele homem enorme, com um chapéu enorme, e uma mão enorme que quando apertou a minha tinha tanta delicadeza que fiquei surpreso e a minha mão desapareceu dentro da dele. Só me dei conta de quem se tratava, anos depois quando conheci sua poesia e me emocionei revivi a cena com a mesma intensidade achando tudo grande o homem e sua poesia.

domingo, 24 de maio de 2020

Duetos


Foto Paulo Carvalho -  Fazenda Pedras da Barra. Prata Paraíba  

      Voltando  

Fugir é fugir com medo

Em  qualquer canto da terra

Manter da vida o segredo

E os segredos que ela encerra

Voltar é encontrar jazigos

Reencontrar os amigos

Como quem voltou da guerra...

                       Zelito Nunes

Poeta Zelito Nunes. Foto Paulo Carvalho

terça-feira, 21 de abril de 2020

Valdir Teles.

Valdir Teles - Foto Paulo Carvalho
Texto de Antônio Lisboa
Por essa ninguém esperava, perder mais um dos principais repentistas da nossa turma, do nosso convívio, no auge da sua carreira, em plena atividade, chega ser doloroso para os familiares, para nós os colega de trabalho, para o público das cantorias e em escala maior para a história do repente nordestino.
É um legado feito ao longo de anos, milhares e milhares de quilômetros rodados por todos os tipos de estradas, noites incansáveis, o suor pingando na quentura dos pés-de-parede ou no calor dos palcos, Nordeste e Brasil afora por onde disputou, conquistou e desfrutou do carinho de todas as plateias dentro e fora do País.

Valdir Teles - Foto Paulo Carvalho
Incontáveis, foram os companheiros de batalha com quem VALDIR TELES, durante todo tempo dividiu os espaços e os eventos nessa profissão. Sempre com bom humor e senso profissional manteve-se na preferência dos chamados promoventes e também disputado pelos cantadores de formação de parcerias o que lhe rendeu um reconhecimento incontestável através da produtividade poética apresentada.
Agora ficamos todos aqui amargando essa tristeza que se converterá em saudades e boas lembranças.


Antônio Lisboa


Recife, 22 de Março de 2020.

domingo, 11 de agosto de 2019

Lembranças do meu Pai.


Foto Paulo Carvalho

        Lembranças do meu Pai.

                                         Ricardo Moura.

Pouco tempo eu vivi com o senhor 

A saudade me aperta ao lembrar quando 

Da cidade chegava me ajeitando 

Com os "mimos " trazidos com amor 


E trazia consigo o seu calor 

Com seus braços gigantes me abraçando 

Com a força que tinha me cheirando 

Não deixava eu sentir nenhuma dor


Não lhe vejo mas o sinto do meu lado

Sempre estou por você acompanhado 

Me mostrando onde entra e onde sai


Não esqueço o senhor um só segundo 

Não existe e nem existirá no mundo 

Uma pessoa melhor do que meu pai


Do poeta Ricardo Moura de São José do Egito PE.

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