Hoje perdemos João Furiba Um dos maiores repentistas do Brasil
Poeta popular,
violeiro repentista, João Batista Bernardo, o João Furiba nasceu em 04/07/1931,
em Taquaritinga do Norte – PE. É
considerado um dos grandes repentistas nordestinos, tendo iniciado a carreira
ainda na adolescência. Já arrebatou inúmeros troféus, em competições entre
violeiros, tendo ficado em primeiro lugar em diversas ocasiões. O apelido
“Furiba” segundo ele, quer dizer coisa sem importância, e foi
dado por Pinto do Monteiro inspirado na figura magra e de baixa estatura de João.
Foi um dos maiores e mais constantes parceiros de Pinto do Monteiro, enquanto
este era vivo, e tornaram -se também grandes amigos apesar das farpas trocadas
durante os desafios. O primeiro encontro dos dois grandes poetas é descrito da
seguinte maneira:
“Lino Pedra Azul
(também cantador de renome) teria agendado uma cantoria com Pinto, em Belo
Jardim, mas em função de outros compromissos surgidos, pediu ao então rapazote
João Batista que o substituísse. Ansioso e receoso, João que só veio a ser
conhecido como Furiba anos depois, aceitou. Chegou no local e perguntou:
JF- É o senhor que é seu
Pinto?
PM- Sou.
JF- É que Lino me pediu pra vir lhe substituir
na Cantoria...
PM- Não sei se vai ter
cantoria, não... ( disse Pinto sem acreditar que estava diante de alguém que
pudesse enfrenta-lo )
Os promotores da
cantoria chegaram perto de Pinto imploraram que o Gênio cantasse com o
desconhecido João Batista...
Iniciaram o baião de
viola. Cada um esperando que o outro iniciasse a sextilha.
Começaram...
Lá pras tantas, Pinto termina a sextilha dizendo:
“Não
sei que tem vaca magra
come
muito e não engorda”
Era
uma referencia ao aspecto franzino e raquítico do Furiba, que respondeu:
“É
porque feijão de corda
já
ta passando de cem,
o
milho tá muito caro
farinha
cara também,
se
Jesus não pisar no frei.
Não
vai escapar ninguém”
Ao
terminar a sextilha, Pinto disse:
-
Depois “nós conversa”, viu?.
A partir daquele
momento, iniciaram uma das duplas mais
fecundas da poética voleira...
João Furiba também fez dupla com
outros cantadores sempre demonstrando sua agilidade e competência na feitura
dos improvisos. Cantando com João Cardoso este fez com os seguintes versos:
Furiba fui informado
Que
você lá em Tabira
Pega frete, dá
recado
Varre
a rua mas se vira
Agora
eu quero saber
Se
isso é verdade ou mentira?
Furiba
respondeu:
Colega
eu fiz em Tabira
O
meu recenseamento
Seis
mil e quinhentas casas
Um
colégio e um convento
Comprei
agora o BANDEPE
A
CISAGRO e o FOMENTO.
O
conhecido cantador Ivanildo Vila Nova, cujo pai também era repentista, cantando
com João Furiba terminou uma estrofe, dizendo:
Não conheço cantador
Pra
ser igual a mim.
Furiba
respondeu dizendo:
Seu
pai também foi assim
Se
dizia professor
Falava
com tantos “s “
Que
parecia um doutor
Cantou
quarenta e seis anos
Morreu
sem ser cantador.
E assim é João Furiba, alegre, irreverente, criativo,
poeta popular simplesmente. É um daqueles que faz a mais autêntica cultura
nordestina. Alberto Oliveira ( poeta e cordelista) afirma que João Furiba é um
dos maiores poetas da história do repente brasileiro. Zelito Nunes, sobre quem
escrevi a coluna anterior, foi quem me apresentou a este extraordinário artista
a quem eu muito admiro e prezo.
Paulo Carvalho.
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