Alto
Meretrício
Boêmios, Bares e Bordéis.
Na
última metade dos anos sessenta algumas casas noturnas fizeram sucesso na noite
Recifense. Diferentes dos cabarés do já
decadente Bairro do Recife, não havia quartos para encontros, os casais
chegavam para uma cerveja, uma dose de Cuba Libre, e dali seguir para algum
lugar. Na maioria das vezes a alcova era o banco traseiro de um Fusca
estacionado na beira mar, de frente, como quem está esperando para ver algum
submarino, que por ventura estivesse espionando a costa Brasileira, séria
ameaça a segurança nacional. A denúncia seria um ato de heroísmo e bons
serviços prestados a pátria. Este argumento foi utilizado com frequência para
convencer uma namorada mais resistente das boas intenções do garanhão. Depois
com o carro já estacionado, e uma visão romântica do luar refletindo nas águas
do oceano, as coisas ficavam mais fáceis. De vez em quando, na saída, o carro
ficava atolado no areal, neste caso podia-se contar com a solidariedade dos
colegas do observatório para uma empurradinha.
Uma
das boates mais famosas da época, o Sarong Drinks, era uma construção de
madeira, suspensa, tipo palafita, com decoração tipicamente Caribenha, com
mulheres Havaianas pintadas nas paredes. Ficava na frente do Hospital da
Aeronáutica, onde terminava o asfalto e começava a faixa do observatório de
submarinos que se estendia até a igrejinha de Piedade. A música ficava por
conta de uma radiola de ficha, Roberto Carlos estourava com: Quero que vá pro inferno, eventualmente
um conjunto musical, clone de Renato e Seus Blue Caps, animava o ambiente.
Na
mesma área, funcionavam outras boates, como A Gruta, e Ferro Velho, onde o
charme era a completa escuridão nas mesas, estas, localizadas em nichos
individuais, onde o garçom, portando uma lanterna, só aparecia se fosse chamado,
para não atrapalhar o chamego.
A
novidade era a luz negra, colocada no teto do salão de dança, “acendia” tudo
que fosse branco, da roupa aos dentes, um jogo de luzes pipocava em spots pelo
ambiente complementando os efeitos especiais. Estas boates também eram frequentadas
por “gente de família” atraída pela novidade. Quem não conhecia “o inferninho” era
considerado atrasado e cafona. No escuro, todos os gatos são pardos.
A
primeira boate LGBT da cidade foi sem dúvida a chiquérrima Chão de Estrelas,
que tinha como anfritião o colunista social Alex de Sousa Alencar, famoso por
suas aparições na TV, e proprietário da casa. Muito bem relacionado no meio
artístico e na alta sociedade, Alex fez da boate um ponto de encontro da
granfinagem local. Decoração sofisticada para os padrões da época, contava no
recinto com pianista e excelente repertório musical baseado em sucessos da
música Norte-Americana, temas de filmes famosos, alguma coisa de jazz. A bossa
nova ainda não havia estreado no pedaço, embora já despontasse no Rio de
Janeiro. Por aqui a música de João Gilberto era ouvida e comentada entre
intelectuais, que envolvidos na luta política e sem dinheiro, se contentavam
com um chopp no Mustang Bar e no fim da noite, com um galeto dividido por quatro na
Cantina Star.
Todas
as boates citadas sucumbiram com o tempo e expansão imobiliária que tomou conta
de Boa Viagem e Piedade a partir de então.
Na verdade, não tinham a vocação e o
charme poético dos cabarés, nem tão pouco era um castelo de inocentes, era
assim... Meia boca.
Na verdade, não tinham a vocação e o charme poético dos cabarés, nem tão pouco era um castelo de inocentes, era assim... Meia boca.
4 comentários:
Eita gota serena. Sarong frequentei muitas vezes. E por vezes voltava no bacurau das 5 da matina.
E ainda por cima saia a pé pro terminal de B.V. lindo...contente e feliz!
Fui frequentador de todas.
Eita tempo bom que não volta mais.
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